quinta-feira, dezembro 6

Vender Um Pedaço de Céu

Homem, desempregado, na casa dos 20, solteiro, sem futuro, fodido, quebrado, gelado, procura a quem vender o resto de alma, o seu único pedaço de céu.
E esse homem, eu, no sentido mais pessoal da palavra, farto das massas férreas que pairam nos ombros, que pesam no consciente e se instalam como uma virose espiritual, desmamo-me do meu egoísmo, acedo à dádiva divina, humanitária, mas nunca altruísta.
A carne aos porcos que a merecem, o ouro aos deuses de espírito, ouro fátuo em estado líquido. O céu na palma da alma, para quem o quiser devorar, e engolir os dividendos do seu psicadelismo ensanguentado.


Texto elaborado no âmbito do GTIST

segunda-feira, outubro 29

"Um suspiro. O ar apertado contra os ossos. Aquele sentimento de perda que tem quem não encontra o que quer. Uma confusão de pensamentos, uma amálgama de sentimentos. A combinação que desperta a inércia e que impede decisões sensatas.
O quarto está escuro, atravessado por um ténue raio de luar. Há um corpo cansado estendido na cama desfeita. O coração bate-lhe no peito como um comboio, escurecido pelo pó, que se arrasta numa marcha lenta e compassada. Os pulmões funcionam em pleno mas esforçam-se por oxigenar os pés gelados e brancos. E esse alguém estendido no colchão sabe que o mal-estar físico é consequência da dor psicológica que lhe destrói implacavelmente os pensamentos. Esse alguém alimentou-se das palavras que ouviu, que se entranharam na pele e foram enfraquecendo a alma de quem as acolheu como o bicho da madeira destrói os móveis, por dentro."

Tatiana Albino, in •°¤*(¯`°( Segredos Aos Pedaços )°´¯)*¤°•

Oco

Um boneco descartilado, que se monta e desmonta, é elevado por cordas de lã. Desfiado em mil tempos e cores, arrasa o tapete que um dia fora sua própria casa. A madeira aveludada suga-lhe o que faz dele o que foi e o que será no dia em que o deixou de ser. Fará dele uma névoa sem tensões, uma dor sem fios que agora o toma.
Corpo de pau, liso, pouco denso, nada corre dentro dele.

Estala de mágoa.

Nenhuma mão o segura, caído no chão de veludo o boneco descartilado chora, porque nem uma lágrima corre dentro dele.

terça-feira, setembro 4

Fluorescências

Humm... Só no som, não é? E naquele zumbido de luz, o medo que ele arrasta, pesado de histórias e contos e terrores. Tanto temor perdido e encontrado, fugido, alado, sussurrado em amarras, ensopadas em surdez, nesse... pálido sarcasmo.

Ela vai caindo, vai, vai! A peça. Vai caindo. Olha para ela. Quem a segura, ninguém a segura, agarra-a, quem a segura? A mão, o pé, o nariz, ensopados no chão. A peça caída no puzzle. Pé ante pé, peça a peça, fundidas no sangue.

- Ai meu amor, e agora..? Põe a tua mão na minha. Consegues sentir o coração? Eu sinto-o, amor.
- Sinto esses ossos. Este é tão meu... lembras-te de o sentir?
- Sinto-o agora como se fosse nosso.
- Não é?
- Tu és nosso, amor. E eu sou tua, consegues sentir?
- Consigo.
- Somos peças, caímos lado a lado.

E, no sorrir do momento, os ossos, as palavras, os olhares quebram numa sopa ensanguentada. Cacos.

A peça em cacos. Agarra-a... segura-a... não a deixes cair...

Senta-se no tempo. Há sentidos imersos, a lembrar a omnipresença que lhe veste a camisa. Olha-se ao espelho, olhar apertado, mão rasgada, sempre cansado do pé, o esquerdo. Abre a parede, desce o perfume, pregado nos ombros, com estes pregados à calçada, segura o papel do rosto por escrever.
Com a noite pesada na nuca socorre-se no cumprimento. Encontra um pedaço, um caco. Com a mão esquerda, guarda-o no peito. Com a direita, perde-se no bolso. A lápis, um parênteses, para cima, deitado no rosto.

domingo, julho 8

"Falling away with you" by Muse


I can't remember when it was good
Moments of happiness elude
Maybe I just misunderstood

All of the love we left behind
Watching the flash backs intertwine
Memories I will never find

So I'll love whatever you become
And forget the reckless things we've done
I think our lives have just begun
I think our lives have just begun

And I feel my world crumbling
I feel my life crumbling
I feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you

Staying awake to chase a dream
Tasting the air you're breathing in
I know I won't forget a thing

Promise to hold you close and pray
Watching the fantasies decay
Nothing will ever stay the same

All of the love we threw away
All of the hopes we cherished fade
Making the same mistakes again
Making the same mistakes again

I can feel my world crumbling
I can feel my life crumbling
I can feel my soul crumbling away
And falling away
Falling away with you

All of the love we've left behind
Watching the flash backs intertwine
Memories I will never find
Memories I will never find

terça-feira, junho 19

Lágrima

Aceito-te no berço sem colo nem chuva.
Carrega-te no sono amadeirado onde as raízes se tornam sua posse.
São as sinas da tua mágoa desgovernada, repara, são sinas.
E tu, desconheces os frutos que lhe adocicam a forma, a polpa, a pele, os ossos, os olhos e os lábios. Desconheces, no fundo, o ser. E o não ser também.

8|3

Sorriu! O gesto sorriu, não viste?

Onde?

Em ti .

De Verde

Esqueço-me,
Algo foge e mancha.
E lamentar o perfeito,
Sempre correr e parar.

Num campo de Farto-mes,
Colho o oco de um espelho,
Cortou a imagem de um pensamento,
E esse pensamento caiu,
Varreu o solo e as nuvens.

Irá pecar, se não pecou.
Chorou sem chorar.

Vem a soletrar.
Soletra, sem pensar
Num sentido, vazado,
Proclama o fim de um destino,
O Sim calado.

sábado, junho 9

Atalhos

O forno pálido não escreve bolos, decora a receita.

Esta lei é desleal, pensei eu, é uma assassina do bom senso!
Peguei no molde fixando o conformismo que pauta o meu andar, o meu trémulo agir.

Ontem perdi o norte, quando, numa duna escondida na praia, fui apedrejado pelas palavras feridas de um toque.

O toque sorriu, fugiu, voou, pairou e voltou.
Juntos pescámos o sol, queimámos a sede oprimida das lágrimas, alimentámos o tempo, para que o seu fogo apagasse o adeus.


Tanta luz...! Já acabou?... Mas e o bolo...?
Queimei a receita...
...Para quando o toque voltar.

quarta-feira, maio 23

Fim da Partida


No passado dia 22, 3ª feira, desloquei-me, na companhia da minha querida catarina, ao Teatro da Politécnica para assistir à peça "Fim da Partida" do Grupo NEXT da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa...


...
...
...


A peça durou 5 a 10 minutos. No fim da peça fui vítima de cerca de hora e meia de uma tortura, que aparentava ser interminável, e que me esfaqueou a inteligência até um ponto em que não consegui distinguir o que em mim era dor e o que não era.

Acaban
do por servir de travesseiro à minha companhia, fui deixado na solidão com o resto do público que incompreensivelmente e estupidamente mantinha os olhos abertos e corpo encostado à cadeira. Umas quantas almas inteligentes levantaram-se e decidiram pôr um justo fim à sua tortura, mas cá eu sou masoquista.

O pr
otagonista morria e voltava a nascer, um moribundo ligado a sacos semelhantes aos de soro dos hospitais, para manter a sonolência desperta. O tempo não queria passar, o tempo não tinha piedade do meu intelecto.

Os aplausos foram efusivos, finalmente a tortura tinha acabado! No fim, eu era o moribundo ensanguentado.


terça-feira, maio 22

Tormento

Trepo os cumes dos mais nivelados abismos,
Soa o grito da minha mente, cercada, limitada...
Pela liberdade... eu luto, eu sangro, eu deixo-me...
Fechar... as mil vozes que há em mim,
Forçadas a expandir-se e a proliferar...
Pela liberdade... dos outros sou eu subjugado?

Quem me alegra tamanha paz conturbada?
O ouro lá eu vejo... o ouro lá eu via...
Quem me choca com a nuvens que no tecto vislumbro?
O chumbo cá eu vejo... o chumbo cá eu via...

Voa com as asas que eu te dou!
Voa até mais não poderes... mas cinge-te a mim,
Vê o que eu vejo, imagina o que eu imagino...
Não sejas o que eu sou, sê o que eu desejo...

Diz-me como ser eu próprio.
Procuro a morte que não tenho,
Quero a vida que desenho...
Em teus quadros... eu ilustro a minha alma...
Presa... ao teu espírito, é a minha vontade.
Consola-me este sonhar acordado, suplico,

De ti eu preciso...
... Delta do mundo, delta do Homem,
És a minha força, mas também o meu tormento,
Assim eles o dizem, assim eu o afirmo...
Tenho que viver, tenho que viver...

Não... quero morrer!

segunda-feira, maio 7

I see...alive people


O maior salto da história do cinema

domingo, abril 29

Prensa

Puxo a alavanca.
Rotação desenfreada, em tom de metal gelado. Foge um click por dente, um dente por grau, grau a grau até ao giro, sem soltar descoordenação, o tempo perseguindo o seu próprio tempo, sempre a tempo.
Click, pêndulo revolucionário, instigação rebelde na luta pró-sistema, sem compreender o seu peso, irracionalizando o foco que o segura e o envolve.
Click, falsa partida, roeste o disparo e voltaste a roer... paraste a corrida, quebraste a mecânica na tua ausência de causa barra motivo, bloqueaste o criativo de um mundo perfeito sem te contentares!
Click...
Click...
Click...
Ao som do relógio, escutando o seu batimento cardíaco, puxo a alavanca e os fios desfazem os nós. Soltos no tempo, grau por dente, dente por click, amarro os ruídos oleados.
O mundo é perfeito outra vez.

segunda-feira, abril 23

A Voz do Sangue

Quando as ilusões fluíam,
Voando por vagos caminhos etéreos,
Constantemente sufocadas,
Presas... consumidas por mim,
Quebrava a futilidade de um futuro imponente...
Decadente... talvez dependente?

Vivo de reflexos do céu que ao meu lado permanece,
Não sou eu... Não existo aqui...
Convergi? Elevei-me? Talvez...
Procurando aquelas torrentes de ouro
Difusas num sangue que não o meu,
Incertas, subjectivas, plenas de certezas minhas.

A luz guiou-te,
O céu lá permaneceu...
Envolto na minha mente...
Sempre presente...

Desde então sinto o tempo...
Vagarosamente o meu corpo estilhaçando,
Globos plenos de sonhos formando...
Fugazes? Frágeis? Nunca concretos...
...mas libertos, para as torrentes fugindo.

E eu... sempre na realidade envolto,
Comprimido por incertezas e vazios,
Moldo futuros ocos, corroo a razão,
Pinto o sentido de uma verdade provável,
Mas para todo o sempre vulnerável.

quinta-feira, abril 19

Sem Rumo

Tu?
Pelo toque distorcido me feri,
Rejubilar...Que fraca percepção!
Paralela à frustração, à emancipação!
Ludibriar o sopro que senti,
Sem manchar o mundo que previ
Não passa de abstracção!
Falas sem razão
Que premeiam a solidão...!

Não, não penso...
Porque não quero existir,
Não quero viver
Enquanto projecção prestes a esvair!
Não quero morrer!
Não quero esquecer e partir...!
Apenas desejo ficar,
Ser guiado pela indiferença,
Fugir por um caminho sem crença,
Pois a realidade é incompreensível,
Ela transfigura o previsível.

Irónico...estas mesmas palavras
São as lanças que me trespassaram...
E que por lá ficaram,
Cravadas no cimento,
Perpetuadas pelo tempo.

Mas chega de pensamentos!
Chega deste imparável sofrimento!
Suplico...! Cessa de uma vez!
Mas o que é que tu não vês?
Sim, invisível... Porém existo!
... E também me via...
Porque de sentir eu agora abdico...!
E se estas palavras são ocas,
Que não sejam no futuro...
Na vida que procuro.

...Não prossigo...
...Não consigo...
Se ao menos não estivesse contigo...
Se ao menos não te tivesse ao meu lado...
Falo de ti contrariedade...!
O verdadeiro inimigo da minha liberdade!
O factor que, mais forte, prevaleceu...
E quem acabou por preterir a realidade?

Esse fantasma...fui eu...

domingo, abril 15

Wonderland



"
American McGee's Alice,the Third Person Shooter computer game released in October 2000. Set years after Alice's Adventures in Wonderland and Through the Looking-Glass, Alice features an older, more cynical and macabre incarnation of Alice.

Shortly after her second adventure, Alice's parents are killed in a fire of which she is the only survivor. Driven catatonic and having attempted suicide (as found in the case book), she is institutionalised in Rutledge Asylum. Years later, She is called by the White Rabbit to the aid of a radically altered Wonderland now under the despotic rule of the Queen of Hearts. The Cheshire Cat in particular now looks very different from Sir John Tenniel's original illustration: the cat is shown here as skeletally thin and his grin looks more devious than mischievous. The Cat is Alice's constant companion throughout the game, popping up now and again to guide or offer advice.
In the end, Alice defeates the Queen of Hearts (her guilt) and restores Wonderland (her sanity) to its original form. Thus, she overcomes the madness that's been drowning her since the fire. Alice finally leaving the Asylum.
"


sexta-feira, abril 13

Gerbera

A calçada corria pelas minhas plantas naquele momento especial. Enquanto os mil braços solares cortavam o vale, imaginei-me algures, quis-me imaginar ali, a perder-me no foco sorridente de mim mesmo.

Nunca precisei de justificar..! Que felicidade! A calçada corria pelas minhas plantas no momento em que rasgo o pudor. Era a semente de algo celestial, regada uma e outra vez pelo privilégio de poder amar. Na crua nudez da corrida, molho a pele no sol, que me abraça e me pousa nas pétalas da gerbera... e foi nas suas asas que encontrei sossego.

O mundo rodou, como havia rodado, e um feixe de calor rodou com ele.

quinta-feira, abril 12

Vontade Profunda

Não sei...
Já me questionaram,
Essas vozes rebeldes do universo.
Não soube responder...
Não soube entender...

E sofri,
Com a possibilidade de poder relembrar,
Voltar a sentir a podridão que nunca senti.
Pois que seja! Pois que surja!
Que venham em plumas pesadas!
Que se abatem sobre nós
Contaminando os nossos sonhos!

...Imperadores modernos...
Amam a vida,
E por isso o mundo amam.
Mas não basta amar o mundo
Para que ele se entregue a nós,
É preciso conquistá-lo.

Fiz um trato com o sangue,
Que ele não afogasse a sanidade,
Que ele não te visse
Como o fruto de uma verdade...
Mas é do sangue que se trata,
Esse imperador moderno,
Essa pluma pesada,
Essa voz rebelde do universo!
Que teima em existir,
Que teima em perverter
A minha mente juvenil...
Juvenil?... Não enganes o tempo,
Engana-te a ti próprio!
Abraça a triste imagem que te rodeia
Erradicando as dúvidas que de lá advêm.

Não me perguntes porquê,
Não vale a pena descansar,
Não vale a pena continuar.
Tudo por um nada perdido,
Um nevoeiro inerte alastrando pelo mar
Um vento campestre atingindo o limiar.

Porém é belo o mundo...
É bela a futilidade inexplicável da vida...
É inspiradora, à sua maneira,
A essência do teu olhar pouco profundo...
Isento do sonho de quem te olha,
Fundido a outra íris ilusória.

E são tantas as histórias sorridas!
Imagens da debilidade adquirida...
...Que sangra pelos lábios d’uma asa partida...
São tantas...são tantas as fábulas!
Rótulos revoltados
De uma inexplicável soturnidade...
São imensas...infindáveis as folhas!
Tentativas supérfluas
De manipular a realidade...

Não chorarei à indeterminação,
Não ficarei envolto nesta densa confusão,
Sofrerei para sempre...
Degradado pela tua vontade,
Degradado pelo teu toque -
- Morto por ti.

Vivo por ti.

quarta-feira, abril 11

Vazio Rubro

Então acordei,
Sublime plenitude
Que se me apoderou,
Eras tu, tu e não mais!
O universo...eras tu!
Senti a vertigem,
Abracei a loucura,
Tornei-me não mais que uma sede de fogo.
E o fogo eras tu!
A chama eras tu!

Mas porquê? O toque fragmentou,
O sangue eras tu, reflexo da pureza...
Refracção do desejo...

Então, caído, te abracei,
Saudável memória cadavérica,
Inexistente, imperceptível,
Tão fictícia como aquele anjo caído dos meus sonhos,
Voando para longe,
Nunca meu, sempre em mim,
Abraçando o vazio desse tempo sem fim.
E eu, caído, te olhei,
Com a minha íris sufocante te fixei
Naquele momento de submissão.

E então me sorriste...
Sublime plenitude!
O universo...eras tu!

sábado, abril 7

Parte de "De mim para ti"

[...]

Porém te digo...tu,
No teu olhar errante,
Nessa tua essência impressionante
De jovial existência,
És capaz de moldar as nuvens,
Banhá-las de luz e calor,
Sufocar o dia de belo sabor,
Fazendo desvanecer a dor!


Um sorriso...
Rasgado, emocionado, apaixonado
Altera o Fado,
E as imagens escorrerão
Pelos teus olhos,
Fervilharão no teu sangue
Como um manto de felicidade
E bem-estar infindáveis.
É uma questão de acreditar.


E eu acredito em ti.
Pois eu sou tu,
E tu és eu,
No fundo, amantes incondicionais da vida.

Travessão

Queima, queima, queima, queima, finda-se no ar a perene falta de razões.
Porque nunca o vais alcançar.
Ponto final.

terça-feira, abril 3

Palavras cheias de nada

Foi ao descalçar a dor que surgiu afinal. A descrição é suja, lava a inutilidade transparecendo o que de facto se passa, a objectiva imagem de sangue derramado.
Não tem sentido... não tem sequer razão de ser...que quero dizer..?
...Feriram-me?
O comentário do punhal afiado foi abafado e seco, quase imperceptível. "Tu és ninguém, tu não tens sonhos".
Tenho sim, preparei-os ontem depois do jantar. Saí à rua era de manhã. O filme não era de sol, nem havia passarinhos a cantar, nem sorrisos a pairar, muito menos guiões cor-de-rosa. A sobremesa caiu naquele preciso momento...
Ahahahahah! Patética falta de estilo...partiste a postura seu corcunda!
Continuei a decompor, a postura, o maxilar, a maçã de Adão, o joelho direito e a hipófise. Todos se ajoelharam perante o teu atrevimento!
Tirei-te os sonhos.
Nunca os cheguei a ter. Desisti deles depois de os preparar.

segunda-feira, abril 2

Rasgo no Absurdo

" Desesperadamente ligado ao absurdo, o homem é prisioneiro de uma liberdade irredutível a qualquer apoio transcendente. Mas talvez aquela hostilidade do mundo seja a raiz de uma suprema reconciliação."


Nascer, viver, morrer.
Quebro quando procuro ilustrar uma eternidade sem ser, sem ter noção, consciência que não sou, que não vivo, que não penso. Uma eternidade, uma infinidade, um sem fim de segundos a estar em lado nenhum, no breu, na escuridão, que no fundo não é escuridão, por no fundo nada ser. É esse aperceber da falta de sentido na nossa existência, e todas as vezes que nos voltamos a diluir no rotineiro perdendo essa noção que haviamos ganho, que Albert Camus define como sendo o absurdo da existência ( «esta espessura e esta estranheza do mundo — é o absurdo» ).
Em "Le Mythe de Sisyphe, essair sur l’absurde" (O Mito de Sísifo, ensaio sobre o absurdo)
Camus expõe todos os seus ideais existencialistas, recorrendo ao exemplo de Sísifo, que encarna a inutilidade do esforço humano, ao ser condenado a empurrar, eternamente, um rochedo até ao cimo de uma montanha para voltar a deixá-lo cair e recomeçar tudo de novo.

Não pretendo nem expôr, nem analisar, nem palavrear o tema/livro de Camus. Deixo apenas uma boa sugestão de leitura, de uma leitura filosófica, crua, interessante, de todos e na qual eu me vejo dissecado.

Será porém este sentimento, este absurdo, que também é o meu, algo tão cruel e cinzento que nos faça perder a esperança e vontade de viver? Parafraseando Camus, a par da «fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos (...) [, porque sabe que] cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz»

sábado, março 31

Fada do Vento


Cor sussurrada...frutada,
Embala o meu corpo pintado.
Resvala no tom rosado...
Neste fogo contido.

Canto fugido e alado,
Embala no sorriso achado.
Escolhe nos sonhos voltar,
Quebrar o fôlego,
Prolongar o toque,
Sem demora tocar...
Tocar, bailar!

E livre dança!
Procura voar!
Destemida paixão que liberta..!
Voa, voa depressa!
Saborosa paixão que desperta..!
...doce brisa esta,
Que embala o corpo pintado...

Terei eu voado?

Leva-me outra vez,
Fundir o fogo com o mar,
Para nunca desaparecer...
Estarei a voar?
A moldar a brisa com o tacto
Em mil passos trancados.
No sangue os mil queimados.

Ebulição descontrolada,
Desmedido respirar cromático,
Sóbrio, canto mudo e solto,
Fala rasgada entre aspas,
Olho pingado, reflexo iluminado,
Estou a escolher,
A filtrar uma vida, por si so, ja rosada.

sexta-feira, março 30

Solução


Porém morreu,

Correu vazio no semblante,
Pólvora de um brilho condenado,
E sem temor esvaneceu,
Correu,
Tremeu num frágil estado,
Fragmentado, Inviolado.

E num mar se desfez,
E num rio desfez o desfeito,

Nasce,
Brota da luz espartilhada,
Caule de uma inércia efusiva.
Emergir?
O fôlego o trai,
Imperar?
Há sempre um Brutus que o traia,
Dissolver?
Na fácil solução social,
"Fuel" de um protótipo banal.

E nos sonhos se desfez,
E na vida desfez o desfeito.

Para voltar a quebrar,
Suspiro passivo de todas as vozes,
Simples evaporação do tom,
Na permissão desmedida que se revela,
Que nunca se entrega
Às mãos de quem chora a lírica perdida.

Rasgo em Mim

gosto de rir . gosto de poesia .
gosto de sandes .
gosto de massa . gosto da catarina . gosto do ist .
gosto de jogar . gosto de cair .
gosto de moamba .
gosto de férias . gosto de gelados . gosto de filmes de suspense .
gosto de futebol . gosto de lisboa .
gosto de animais .
gosto de água . gosto de gostar . gosto de pensar .
gosto de dormir . gosto de séries .
gosto de inventar .
gosto de chipmix . gosto do verão . gosto de lógica .
gosto de surrealismo . gosto de criar

A Ferida

Vou dilacerar as vertigens terrenas,
Cravar na carne a putrefacção,
Enlamear a raiva existente
Dispersando-a numa visão persistente,
Que não escapa...que não corre,
Permanece simplesmente...
Furiosa, diluída neste mundo.

É a loucura consciente,
Dispersando as suas entranhas,
As entranhas de um corpo demente,
Impetuosamente esfaqueado por turbilhões,
Estalando ossos, rompendo tendões,
Esperando avistar a implosão do sentido...
...NUNCA! Nunca perdido, apenas esquecido!

E a dor perpetua-se...
E a dor esmaga...
Cria um demónio escondido,
Um assassino fugido,
Alimentado por um sangue imundo
Caído do escuro, vindo das sombras,
Nascido da Ira!

E a demência deste mundo afoga-me!
As suas vísceras apertam-me...
Sufocam-me...contaminam-me...!
Dissecam cada pedaço de mim,
Dilaceram esta carne que eu sinto,
Esta carne que eu penso sentir...

Tudo o que vejo é sangue...
Não batalhas, não doenças...
Mais profundo que isso...
É o sangue que se esconde na terra,
Que se esconde no céu,
Que se abriga no universo...
Que surge no meu olhar perverso,
O olhar de um assassino,
Um assassino controverso....
Que jamais será compreendido...
Jamais irá compreender...
Julgam-no perdido...

Mas ele nunca, nunca irá morrer!

O Eu


Isto é um blog. Isto é um rasgo no peito. No meu peito.