segunda-feira, outubro 29

Oco

Um boneco descartilado, que se monta e desmonta, é elevado por cordas de lã. Desfiado em mil tempos e cores, arrasa o tapete que um dia fora sua própria casa. A madeira aveludada suga-lhe o que faz dele o que foi e o que será no dia em que o deixou de ser. Fará dele uma névoa sem tensões, uma dor sem fios que agora o toma.
Corpo de pau, liso, pouco denso, nada corre dentro dele.

Estala de mágoa.

Nenhuma mão o segura, caído no chão de veludo o boneco descartilado chora, porque nem uma lágrima corre dentro dele.

3 comentários:

Anónimo disse...

corre muito dentro dele, caro. a eternidade pertence mais ao que eternamente é adiado que à visão distorcida dos que pela força do desespero em tudo intentam ver a vida, a realidade em que os horroriza talvez estarem. ide por aí acima, que sempre haverá pedras nos caminhos

Anónimo disse...

O "alter-ego" do sujeito poético, numa deambulação existencial mais estática e reflexiva, mergulha em si próprio, no seu sentido último, numa catarse sem horizontes redentores, mas onde a sedução do vazio pode ser, também, volúpia e refrigério. Essa deambulação desencantada é, como vem sendo norma, fortemente sinestésica, imagética e alegórica.
Texto de uma qualidade sem mácula!

The Artist disse...

Gosto dos comments! ;-)