terça-feira, maio 22

Tormento

Trepo os cumes dos mais nivelados abismos,
Soa o grito da minha mente, cercada, limitada...
Pela liberdade... eu luto, eu sangro, eu deixo-me...
Fechar... as mil vozes que há em mim,
Forçadas a expandir-se e a proliferar...
Pela liberdade... dos outros sou eu subjugado?

Quem me alegra tamanha paz conturbada?
O ouro lá eu vejo... o ouro lá eu via...
Quem me choca com a nuvens que no tecto vislumbro?
O chumbo cá eu vejo... o chumbo cá eu via...

Voa com as asas que eu te dou!
Voa até mais não poderes... mas cinge-te a mim,
Vê o que eu vejo, imagina o que eu imagino...
Não sejas o que eu sou, sê o que eu desejo...

Diz-me como ser eu próprio.
Procuro a morte que não tenho,
Quero a vida que desenho...
Em teus quadros... eu ilustro a minha alma...
Presa... ao teu espírito, é a minha vontade.
Consola-me este sonhar acordado, suplico,

De ti eu preciso...
... Delta do mundo, delta do Homem,
És a minha força, mas também o meu tormento,
Assim eles o dizem, assim eu o afirmo...
Tenho que viver, tenho que viver...

Não... quero morrer!

4 comentários:

Catarina disse...

muito triste.

The Artist disse...

Ao ler os teus textos nota 10 (assim dizem os brasucas) não consigo deixar de fazer, quase naturalmente, uma decomposição analítica do mesmo procurando p.ex. tendências de estilo.

Mas como isso a ti, como autor, pouco te parece dizer vou-me coibir de comentar...

Mas... este comment, já não será ele mesmo um comentário? ;-)

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Visualização de uma atmosfera de tonalidades graves, continuando em grande destaque e logo a abrir um dos recursos estilísticos predilectos do autor, a antítese, o que no caso vertente é, aliás, plenamente justificado, pois, tal como em outros, é de um jogo de contrários, de oposições à partida insanáveis que "Tormento" trata.
Mais uma vez, o sujeito poético navega desgarrado nas suas próprias contradições, nas suas próprias angústias existenciais. Da pontuação afectiva emerge uma deliberada subjectividade suspensiva, o que, aliado à função retórica das interrogações, prolonga a emoção e a atenção no espírito do leitor, esse interlocutor abstracto frequentemente invocado, quiçá um deus "ex machina", mas esvaziado da sua função salvadora.