terça-feira, junho 19

Lágrima

Aceito-te no berço sem colo nem chuva.
Carrega-te no sono amadeirado onde as raízes se tornam sua posse.
São as sinas da tua mágoa desgovernada, repara, são sinas.
E tu, desconheces os frutos que lhe adocicam a forma, a polpa, a pele, os ossos, os olhos e os lábios. Desconheces, no fundo, o ser. E o não ser também.

8|3

Sorriu! O gesto sorriu, não viste?

Onde?

Em ti .

De Verde

Esqueço-me,
Algo foge e mancha.
E lamentar o perfeito,
Sempre correr e parar.

Num campo de Farto-mes,
Colho o oco de um espelho,
Cortou a imagem de um pensamento,
E esse pensamento caiu,
Varreu o solo e as nuvens.

Irá pecar, se não pecou.
Chorou sem chorar.

Vem a soletrar.
Soletra, sem pensar
Num sentido, vazado,
Proclama o fim de um destino,
O Sim calado.

sábado, junho 9

Atalhos

O forno pálido não escreve bolos, decora a receita.

Esta lei é desleal, pensei eu, é uma assassina do bom senso!
Peguei no molde fixando o conformismo que pauta o meu andar, o meu trémulo agir.

Ontem perdi o norte, quando, numa duna escondida na praia, fui apedrejado pelas palavras feridas de um toque.

O toque sorriu, fugiu, voou, pairou e voltou.
Juntos pescámos o sol, queimámos a sede oprimida das lágrimas, alimentámos o tempo, para que o seu fogo apagasse o adeus.


Tanta luz...! Já acabou?... Mas e o bolo...?
Queimei a receita...
...Para quando o toque voltar.