sexta-feira, março 30

A Ferida

Vou dilacerar as vertigens terrenas,
Cravar na carne a putrefacção,
Enlamear a raiva existente
Dispersando-a numa visão persistente,
Que não escapa...que não corre,
Permanece simplesmente...
Furiosa, diluída neste mundo.

É a loucura consciente,
Dispersando as suas entranhas,
As entranhas de um corpo demente,
Impetuosamente esfaqueado por turbilhões,
Estalando ossos, rompendo tendões,
Esperando avistar a implosão do sentido...
...NUNCA! Nunca perdido, apenas esquecido!

E a dor perpetua-se...
E a dor esmaga...
Cria um demónio escondido,
Um assassino fugido,
Alimentado por um sangue imundo
Caído do escuro, vindo das sombras,
Nascido da Ira!

E a demência deste mundo afoga-me!
As suas vísceras apertam-me...
Sufocam-me...contaminam-me...!
Dissecam cada pedaço de mim,
Dilaceram esta carne que eu sinto,
Esta carne que eu penso sentir...

Tudo o que vejo é sangue...
Não batalhas, não doenças...
Mais profundo que isso...
É o sangue que se esconde na terra,
Que se esconde no céu,
Que se abriga no universo...
Que surge no meu olhar perverso,
O olhar de um assassino,
Um assassino controverso....
Que jamais será compreendido...
Jamais irá compreender...
Julgam-no perdido...

Mas ele nunca, nunca irá morrer!

3 comentários:

Catarina disse...

Gosto da profundidade com que escreves. Gosto da sensação de 'aflição' que tenho ao lê-lo.

Gosto.

Mas gosto mais ainda de ti.

Anónimo disse...

Talvez o mais sombrio de todos os poemas, com o sujeito poético a trazer à liça todos os seus demónios, numa exposição visceral, crua, de uma crueldade objectiva sem freio, num relato carnal que não admite eufemismos pacificadores. Pelo contrário, a demência imagética das evocações subjectivas avança ao longo do poema em rasgões destrutivos, face aos quais o último verso funciona também como grito final de alguém que se recusa a sucumbir.

Irina disse...

Só li este há coisa de meia hora... Agora ainda percebi melhor o porquê de me teres perguntado se o necessidade tinha surgido enquanto espreitava por aqui...^^

Sim... Assassinos! =D
(repare-se no pormenor do smile tão feliz perante tal afirmação xD)**