segunda-feira, abril 23

A Voz do Sangue

Quando as ilusões fluíam,
Voando por vagos caminhos etéreos,
Constantemente sufocadas,
Presas... consumidas por mim,
Quebrava a futilidade de um futuro imponente...
Decadente... talvez dependente?

Vivo de reflexos do céu que ao meu lado permanece,
Não sou eu... Não existo aqui...
Convergi? Elevei-me? Talvez...
Procurando aquelas torrentes de ouro
Difusas num sangue que não o meu,
Incertas, subjectivas, plenas de certezas minhas.

A luz guiou-te,
O céu lá permaneceu...
Envolto na minha mente...
Sempre presente...

Desde então sinto o tempo...
Vagarosamente o meu corpo estilhaçando,
Globos plenos de sonhos formando...
Fugazes? Frágeis? Nunca concretos...
...mas libertos, para as torrentes fugindo.

E eu... sempre na realidade envolto,
Comprimido por incertezas e vazios,
Moldo futuros ocos, corroo a razão,
Pinto o sentido de uma verdade provável,
Mas para todo o sempre vulnerável.

4 comentários:

Anónimo disse...

Depois do Sem Rumo, a Voz do Sangue será Voz de um espírito Sem estado?

Samorosa disse...

A cronologia deste blog não corresponde à cronologia lírica, mas deixo-te na liberdade da subjectividade intelectual. =]

Catarina disse...

Nao sufoques as tuas ilusões. Nao apanhes uma indigestão delas. Consome-as aos bocadinhos, aos poucos. Saboreia-as. A ilusão não é má, é boa. Não é um escape. É só uma realidade um bocadinho mais distante (mas paralela) àquela "realidade" em que te encontras "envolto".

Anónimo disse...

Depara-se-nos aqui uma poesia onde se assume uma violência vocabular progressiva, a busca individual não conduz ao apaziguamento do "eu", antes levanta questões insolúveis, sobrevalorizadas pela hipérbole ("o meu corpo estilhaçando"), pela antítese ("Incertas...plenas de certezas"), pelo disfemismo ("torrentes", "estilhaçando"). O poema torna-se, ele próprio, uma gradação rumo a um clímax que nada nada conclui, pelo que tudo é deixado em aberto.