quinta-feira, abril 19

Sem Rumo

Tu?
Pelo toque distorcido me feri,
Rejubilar...Que fraca percepção!
Paralela à frustração, à emancipação!
Ludibriar o sopro que senti,
Sem manchar o mundo que previ
Não passa de abstracção!
Falas sem razão
Que premeiam a solidão...!

Não, não penso...
Porque não quero existir,
Não quero viver
Enquanto projecção prestes a esvair!
Não quero morrer!
Não quero esquecer e partir...!
Apenas desejo ficar,
Ser guiado pela indiferença,
Fugir por um caminho sem crença,
Pois a realidade é incompreensível,
Ela transfigura o previsível.

Irónico...estas mesmas palavras
São as lanças que me trespassaram...
E que por lá ficaram,
Cravadas no cimento,
Perpetuadas pelo tempo.

Mas chega de pensamentos!
Chega deste imparável sofrimento!
Suplico...! Cessa de uma vez!
Mas o que é que tu não vês?
Sim, invisível... Porém existo!
... E também me via...
Porque de sentir eu agora abdico...!
E se estas palavras são ocas,
Que não sejam no futuro...
Na vida que procuro.

...Não prossigo...
...Não consigo...
Se ao menos não estivesse contigo...
Se ao menos não te tivesse ao meu lado...
Falo de ti contrariedade...!
O verdadeiro inimigo da minha liberdade!
O factor que, mais forte, prevaleceu...
E quem acabou por preterir a realidade?

Esse fantasma...fui eu...

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem rumo?
Parece-me assumidamente o primeiro Rumo com Rima!
;-)

JorgeMiguel

Catarina disse...

" Apenas desejo ficar,
Ser guiado pela indiferença
Fugir por um caminho sem crença."

Não querer morrer, não querer viver, não querer esquecer... só por si já são rumos. crenças.

e 23.

:)

Anónimo disse...

Também aqui a linha de "rumo" traçada revela a marca pessoalíssima de quem escreve, talvez apenas com um recurso mais exaustivo à rima, numa redundância estilística que contribui para acentuar a pungência obstinada da mensagem. Há um desnudar hiperbolizado do sujeito poético, aqui mais exposto, assumindo a sua vulnerabilidade, num aparente confronto com o outro, esse "tu", que é, afinal, uma luta consigo próprio, o fantasma que a si próprio se assombra, o outro lado da mesma realidade que se tenta preterir, numa luta de desfecho impossível porque seria preterir-se a si próprio.