segunda-feira, abril 2

Rasgo no Absurdo

" Desesperadamente ligado ao absurdo, o homem é prisioneiro de uma liberdade irredutível a qualquer apoio transcendente. Mas talvez aquela hostilidade do mundo seja a raiz de uma suprema reconciliação."


Nascer, viver, morrer.
Quebro quando procuro ilustrar uma eternidade sem ser, sem ter noção, consciência que não sou, que não vivo, que não penso. Uma eternidade, uma infinidade, um sem fim de segundos a estar em lado nenhum, no breu, na escuridão, que no fundo não é escuridão, por no fundo nada ser. É esse aperceber da falta de sentido na nossa existência, e todas as vezes que nos voltamos a diluir no rotineiro perdendo essa noção que haviamos ganho, que Albert Camus define como sendo o absurdo da existência ( «esta espessura e esta estranheza do mundo — é o absurdo» ).
Em "Le Mythe de Sisyphe, essair sur l’absurde" (O Mito de Sísifo, ensaio sobre o absurdo)
Camus expõe todos os seus ideais existencialistas, recorrendo ao exemplo de Sísifo, que encarna a inutilidade do esforço humano, ao ser condenado a empurrar, eternamente, um rochedo até ao cimo de uma montanha para voltar a deixá-lo cair e recomeçar tudo de novo.

Não pretendo nem expôr, nem analisar, nem palavrear o tema/livro de Camus. Deixo apenas uma boa sugestão de leitura, de uma leitura filosófica, crua, interessante, de todos e na qual eu me vejo dissecado.

Será porém este sentimento, este absurdo, que também é o meu, algo tão cruel e cinzento que nos faça perder a esperança e vontade de viver? Parafraseando Camus, a par da «fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos (...) [, porque sabe que] cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz»

1 comentário:

Catarina disse...

Ainda bem que podemos ir preenchendo um bocadinho o absurdo da existência uns dos outros, tornando-o assim menos absurdo. Ou mais, nao sei.

Este post é mm a 'minha onda' =) Adorei, namorado!

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